FILOSOFEAR

estamos sempre a esperar a esperar o Sol a esperar a Lua a esperar a maré a esperar a primavera a esperar uma estrela a esperar a vida a esperar a morte, que não tarda e chega, às vezes, muito antes que todas estas outras coisas que vivemos... a esperar.

Às vezes, andando nas ruas, meu pensamento viaja. Os passos ficam cada vez mais lentos, os olhos vagam pela paisagem tão conhecida e tão nova a cada olhar. Um sentimento de vazio me toma o peito, sinto como se caminhasse só, mesmo avistando pessoas a pé, ciclistas e carros. O vazio é quase doloroso, como uma grande saudade. Nesse instante, sentidos aguçados, um inseto no chão, uma folha caindo, as coisas mínimas acolhem minha atenção. Até uma gargalhada, um motor, uma ação ou movimentação me despertar. Então olho para frente e sigo meu caminho, acelero os passos, balanço a cabeça, como se saísse de um transe. Volto então à tal: "Realidade" Há certos dias em que todas as ruas parecem desertas.

olha a chuva vamos correr a rua esta quase deserta alguns olhos brilham nas sombras entre as lixeiras olha a chuva vamos correr a janela reflete o brilho das luzes o céu fica mais próximo e quase posso tocá-lo as cores ganham uma textura especial olha a chuva vamos correr o som das gotas tocando o solo me embala a brisa me refresca a alma a água cria espelhos pelo chão o lago ganha formas inebriantes olha chuva vamos correr vamos correr vamos correr vamos correr pra fora e aproveitar a chuva

Quando não encontramos explicação inventamos algo que nos satisfaça a angústia do não saber. Pois, mais fácil é para o ser humano acreditar em algo completamente fútil, do que aceitar que não pode explicar.

às vezes é bom estar só, ouvir o silêncio da noite o som dos seus próprios passos respirar fundo e sentir o ritmo na respiração observar o orvalho sobre a pele aproveitar o carinho da brisa nos cabelos ter olhar distante e vazio e a mente no infinito às vezes é bom estar só e perceber a existência das coisas que nos cercam

eu ouço a música, ela me droga como o mais puro ópio me carrega e viajo por horizontes inimagináveis observo a fantasia que ela cria em minha mente brinco e transformo-a a meu modo a cada acorde, a cada batida, a cada tom, um novo mundo a explorar e a realidade como meu pobre consciente conhece, transforma-se em nada e da espaço à maravilhosa experiência de EXISTIR

eu olho para o céu enquanto passa um avião eu olho para o horizonte e vejo um novo edifício sendo erguido eu olho para a minha rua e vejo um carro que passa velozmente olho pela janela eu vejo a pintura desgastada do muro olho dentro de casa e vejo que a TV já não está funcionando bem eu olho no espelho e vejo que preciso acertar a gravata eu fecho os olhos e vejo que de olhos abertos... ...eu não enxergo nada.